Esta comunicação visa apresentar os resultados das pesquisas desenvolvidas pelos discentes no projeto: Registro de Memórias dos Idosos sobre Sexualidade, Relações de Gênero e a Geração LGBT, vinculado ao Projeto: A Trajetória de Formação no Curso de Pedagogia da Unidade Universitária de Campo Grande desenvolvido na disciplina: Gênero e Educação do referido Curso, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio dos recursos financeiros do Edital nº 025/2015. A ideia de registrar as concepções dos idosos sobre sexualidade e relações de gênero, por meio de um roteiro de conversa surgiu quando apresentamos aos discentes alguns questionamentos em sala de aula: o que é ser autor de um texto? Qual é o mecanismo que possibilita ao pesquisador constituir-se autor? Para refletirmos sobre essas questões desafiamos os discentes, a fazerem um exercício de construção de autoria, por meio da compreensão dessa temática, estabelecendo uma inter-relação com as histórias de vida de idosos e os estudos do campo de gênero e sexualidade. Para subsidiar esse desafio é preciso considerar que ser autor compreende a construção de um estilo próprio. Dessa perspectiva, essas memórias estão marcadas por um contexto histórico que oportunizou aos discentes/autores se verem escrevendo a história de vida desses participantes, momento em que, pelas vozes do Outro, vivenciaram a possibilidade de confrontarem as suas crenças e vivências com as visões de mundo de homens e mulheres do Século XX.
Thiscommunicationaims at presenting the results of researches conducted by students in the Register of Elders’ Memories about Sexuality, Gender Relations and the LGBT Generation Project, which was linked to another project-- Trajectory of Formation in Pedagogy Course of the University Unit of Campo Grande--, developed in the discipline Gender and Education of the same course in theStateUniversity of Mato Grosso do Sul. The project was funded by the Foundation for Support of Teaching, Science and Technology DevelopmentoftheStateof Mato Grosso do Sulwith financial resources from the Public Notice# 025/2015. The idea of register in gelders’ conceptions of sexuality and gender relations, by means of a conversational script, occurred when we were presenting some questions to the students in the classroom: what does it mean to be the author of a text? What is the mechanism that makes are searcher become an author? To reflect on those issues and fully understand that theme, we challengedthestudents to do an exercise of buildingauthorship, establishing an interrelationship betweenthe elders’ life stories and studies ongender and sexuality. But, before facing that challenge,it is necessary to know that being anauthor implies the development of a personal style. From that perspective, thosememoriesare marked by a historical contextthatled the students/authorsto write about those participants’ life storieswhen, through the Other’s voices, they had the possibility to confronttheirownbeliefs and personal experienceswith theworldviewsof20th-century men and women.
Considerações iniciais
Esta comunicação visa apresentar os resultados das pesquisas desenvolvidas pelos discentes no projeto: Registro de Memórias dos Idosos sobre Sexualidade, Relações de Gênero e a Geração LGBT, vinculado ao Projeto: A Trajetória de Formação no Curso de Pedagogia da Unidade Universitária de Campo Grande desenvolvido na disciplina: Gênero e Educação do referido Curso, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio dos recursos financeiros do Edital nº 025/2015.
A ideia de registrar as concepções dos idosos sobre sexualidade e relações de gênero, por meio de um roteiro de conversa surgiu quando apresentamos aos discentes alguns questionamentos em sala de aula: o que é ser autor de um texto? Qual é o mecanismo que possibilita ao pesquisador constituir-se autor? Para refletirmos sobre essas questões desafiamos os discentes, a fazerem um exercício de construção de autoria, por meio da compreensão dessa temática, estabelecendo uma inter-relação com as histórias de vida de idosos.
Para Lacerda et al (2017) para subsidiar esse desafio é preciso considerar que ser autor compreende a construção de um estilo próprio, pois segundo Possenti, “autor + singularidade constituem o estilo de escrita e de oralidade. Esse autor ainda nos ensina que
(...) um texto só pode ser avaliado em termos discursivos quando passa pela questão da subjetividade e de sua inserção em um quadro histórico, em um discurso que histórica e socialmente lhe dê sentido (Possenti, 2009: 106).
Essas memórias estão marcadas por um contexto histórico que oportunizou aos discentes/autores se verem escrevendo a história de vida desses participantes, momento em que, pelas vozes do Outro, vivenciaram a possibilidade de confrontarem as suas crenças e vivências com as visões de mundo de homens e mulheres do Século XX.
A obra é constituída por 12 (doze) capítulos em que seus autores apresentam 23 (vinte e três) depoimentos de homens e mulheres idosos. Para tanto, tiveram a oportunidade fazerem a leitura, bem como a reflexão de uma ampla literatura na disciplina de Educação e Gênero, que evidencia uma inter-relação do campo investigativo entre educação, história e sexualidade, por meio de textos clássicos como as obras de Sigmund Freud, Michel Foucault, as pós-estruturalistas Carole Vance, Henriquetta Moore, Joan Scott, Judith Butler, Gayle S Rubin,além das contribuições da historiadora brasileira Mary Del Priore, da educadora Guacira Lopes Louro e da antropóloga Maria Luiza Heilborn, entre outros autores relevantes, para a compreensão da linguagem presente nas memórias dos idosos sobre gênero e sexualidades, que participaram da referida proposta.
Dessa perspectiva, também apresentamos aos discentes, de maneira articulada o percurso que deve ser adotado para a organização de fontes orais, por meio dos conteúdos, previstos no Projeto Pedagógico do Curso e debatidos na disciplina de Itinerários Científicos II, ministrada pela Profa. Kátia Cristina Nascimento Figueira, descortinamos para eles os ensinamentos de Bosi que em sua obraMemória e Sociedade registra a percepção teve durante o registro dos depoimentos dos velhos para a sua pesquisa, na cidade de São Paulo,
[...] fomos ao mesmo tempo sujeito e objeto. Sujeito enquanto indagávamos, procurávamos saber. Objeto enquanto ouvíamos, registrávamos, sendo como que um instrumento de receber e transmitir suas lembranças (Bosi,1994: 38).
De acordo com Oliveira (2013) há a necessidade de o entrevistador aguardar o tempo do entrevistado, a fim de estabelecer vínculo e confiança durante a interação que gradativamente pode se estabelecer na entrevista. Para esse autor a interação estabelecida entre Bosi:
[...] com as pessoas estudadas faz lembrar o saudoso sociólogo Oswaldo Elias Xidieh. Ambos, Ecléa e Xidieh, são cultores da paciência e esperam o momento adequado em que os sujeitos se sintam livres e à vontade para abrir seu coração na forma de depoimentos. É
preciso dar tempo ao tempo para que se formem vínculos de amizade entre a pesquisadora e os sujeitos pesquisados; é nessa convivência, ombro a ombro, olhos nos olhos, que ao longo dos anos podem juntos construir uma rede solidária de confiança mútua (p. 90).
Em 2013 esse autor fez uma homenagem à Ecléa Bosi e em sua análise destaca que “[...] o cultivo da simpatia pelas pessoas estudadas permitiu a referida autora distinguir o momento propício em que as pessoas estão predispostas a falar livremente (....) (Oliveira, 2013: 90).
A proposta do Curso de Pedagogia da Unidade Universitária de Campo Grande da UEMS estrutura a iniciação científica, na perspectiva de itinerários com a compreensão de que a aquisição dos resultados da pesquisa deve ocorrer em um processo que envolva os discentes desde o primeiro módulo do curso e que são múltiplos os métodos, estratégias e intenções da pesquisa. Assim:
[…] no primeiro módulo, a Unidade de Estudo Itinerários Científicos I discutirá com os alunos as matrizes teóricas fundantes da produção do conhecimento em educação. O aluno deverá participar de aulas, seminários e experiências que lhe possibilitem conhecer os fundamentos teóricos que têm orientado a pesquisa educacional, quais sejam, o positivismo, a fenomenologia e o marxismo e seus desdobramentos. Isso lhes possibilitará fazer uma opção mais consciente do que deseja pesquisar e desenvolver no Trabalho de Conclusão de Curso - (TCC). No segundo módulo, a Unidade de Estudo Itinerários Científicos II se voltará para a produção de fontes de acordo com os projetos cadastrados na instituição pelos grupos de pesquisa dos docentes lotados no curso. Entende-se por fontes os documentos audiovisuais, bibliográficos, cartográficos, eletrônicos, filmográficos, iconográficos, micrográficos e textuais. Neste sentido os alunos deverão produzir instrumentos que remetam ao local em que as fontes se encontram, identificando o tipo de fonte, de organização, de acesso e palavras chave que apontem para o teor existente na fonte documental arrolada. Esses instrumentos ficarão sob a guarda da Biblioteca da Unidade e/ou do Centro de Documentação em Educação, Diversidade Cultural e Linguagens de Mato Grosso do Sul(Projeto Pedagógico do Curso, 2012: 30).
O referido Projeto Pedagógico destaca também que:
[...] pesquisar a prática é uma tarefa complexa. A pesquisa impõe-se como necessidade a partir do processo de tomada de consciência sobre o fato de que os problemas que afetam a sociedade atual são também, responsabilidade de todos. Então, é necessário compreender esses problemas na sua origem, analisá-los com mais profundidade(2012: 19).
Assim o envolvimento dos discentes na escrita do e-book atende o processo formativo, possibilitando ao discente da 2ª série do Curso compreender as etapas da pesquisa, bem como a categorização das fontes que podem ser utilizadas em uma investigação científica e sobretudo no domínio da linguagem que deve ser adotada nos trabalhos acadêmicos.
Bueno et al.salientam que:
[...] a crise atual do sistema público brasileiro, corroendo a identidade profissional dos professores, tem provocado movimentos de revalorização da memória, quer no sentido amplo da história da educação, quer no sentido amplo pontual da recuperação de memórias de professores(1993: 303).
Essa valorização da memória pode ser compreendida pelos discentes/autores do e-book no momento que reservaram um espaço de escuta sobre as experiências dos idosos de maneira articulada ao seu processo formativo.
De acordo com Bueno et al:
Freud havia problematizado a memória e o esquecimento. Havia teorizado sobre o caráter dinâmico da memória, sobre o fato de que as fronteiras sempre móveis, que separam a memória do esquecimento, dependem do resultado transitório de um conflito entre forças que levam o passado à consciência e forças que condenam ao esquecimento. Na sua Teoria da Sedução, havia esboçado também o conceito de posteridade: o fato de que o passado não se coloca, enquanto uma massa de dados, mas a ideia de que o passado é construído e continuamente reconstruído a partir de uma perspectiva e de uma problemática do presente(1993: 304).
Para evidenciar a dinâmica estabelecida entre entrevistados e pesquisadores comentado, acima por Bosi (1994), elegemos um registro de memória para ser analisado neste texto, tendo em vista queas discentes/autoras descreveram com surpresa os resultados dos diálogos estabelecidos com a idosa, conforme podemos constatar na narrativa da senhoraBGN,que por questões éticas citamos as iniciais do nome dela, a fim de atender às recomendações do Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Os dados da entrevista foram registrados pela dupla Gabriela Hvala de Figueiredo e a Jéssica Moraes Barbosa, é uma mulher, brasileira, natural de Itaocara, Estado do Rio de Janeiro, possui 82 (oitenta e dois) anos, casada, do lar:
Com BGN as autoras registraram o seguinte diálogo:
E como eram as brincadeiras de infância entre meninas e meninos?
B quando eu era pequena (disse com olhar nostálgico) só podia brincar com minhas oito irmãs... já meus seis irmãos brincavam entre si... só podíamos brincar depois que ajudávamos nossos pais ou em casa nos afazeres ou... no caso de meus irmãos no comércio com meu pai... gente não saía para brincar na rua... brincávamos em casa
E do que você mais gostava de brincar com os meninos?
B eu e minhas irmãs não podíamos brincar com os meninos... somente entre nós mesmo... mas eu gostava de assistir eles brincando de futebol na rua, apesar de achar difícil (disse entre risadas)
E o que essas brincadeiras representavam para você?
B ah, minha filha... eu brinquei muito pouco na minha infância... como uma das irmãs mais velhas eu tinha muitas obrigações... eu precisava ajudar minha mãe a cuidar da casa e dos menores... mas quando eu tinha oportunidade brincar de boneca era emocionante... fingir que a boneca era minha filhinha... agora você vê que eu só tive filhos homens)(risos)
E como essas brincadeiras e a convivência possibilitaram a sua compreensão sobre a sua sexualidade?
B sexualidade? como assim minha filha?
Após as entrevistadoras explicarem o que significava, EBN disse:
E como eram as brincadeiras de infância entre meninas e meninos?
B quando eu era pequena (disse com olhar nostálgico) só podia brincar com minhas oito irmãs... já meus seis irmãos brincavam entre si... só podíamos brincar depois que ajudávamos nossos pais ou em casa nos afazeres ou... no caso de meus irmãos no comércio com meu pai... gente não saía para brincar na rua... brincávamos em casa
E do que você mais gostava de brincar com os meninos?
B eu e minhas irmãs não podíamos brincar com os meninos... somente entre nós mesmo... mas eu gostava de assistir eles brincando de futebol na rua, apesar de achar difícil (disse entre risadas)
E o que essas brincadeiras representavam para você?
B ah, minha filha... eu brinquei muito pouco na minha infância... como uma das irmãs mais velhas eu tinha muitas obrigações... eu precisava ajudar minha mãe a cuidar da casa e dos menores... mas quando eu tinha oportunidade brincar de boneca era emocionante... fingir que a boneca era minha filhinha... agora você vê que eu só tive filhos homens (risos)
E como essas brincadeiras e a convivência possibilitaram a sua compreensão sobre a sua sexualidade?
B sexualidade? como assim minha filha?
Após as acadêmicas explicarem o que significava ela disse:
E você recebeu alguma orientação antes do namoro e da preparação para o casamento?em caso positivo quem a ofereceu e como foi feita essa orientação?
B nunca ninguém disse nada não... só minha mãe que disse que eu tinha que fazer tudo o que meu marido mandasse fazer... que eu tinha que ser obediente e sempre agradá-lo... com os anos do casamento quem começou agradar e a obedecer foi ele (risos)
As vivências de BGN nos possibilita conhecer o que ela viveu ao longo da sua vida em um período que as relações de gênero eram demarcados, por meio de brincadeiras reservadas para meninos e meninas, atividades laborais e espaços ocupados por mulheres e homens, bem como os comportamentos esperados das mulheres diante dos homens no cotidiano do matrimônio.
Essas vivências podem evidenciar a contradição vivida também por homens e mulheres, no percurso histórico entre o século XVII e XIX, apresentado por Michel Foucault, no início de sua obra História da Sexualidade I – A vontade de saber, momento em que a família confisca os sentidos da sexualidade à dependências privadas do ambiente doméstico e passa a controlar a discursividade, atribuindo-a à função da reprodução da espécie:
Parece que, por muito tempo, teríamos suportado um regime vitoriano e a ele nos sujeitaríamos ainda hoje. A pudicícia imperial figuraria no brasão de nossa sexualidade contida, muda, hipócrita. Diz-se que no início do século XVII ainda vigorava uma certa franqueza. As práticas não procuravam o segredo; as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, as coisas, sem demasiado disfarce; tinha-se com o ilícito uma tolerante familiaridade. Eram frouxos os códigos da grosseria, da obscenidade, da decência, se comparados com os do século XIX. Gestos diretos, discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias mostradas e facilmente misturadas, crianças astutas vagando, sem incômodo nem escândalo, entre os risos dos adultos: os corpos "pavoneavam".Um rápido crepúsculo se teria seguido à luz meridiana, até as noites monótonas da burguesia vitoriana (Foucault, 1988:9-10).
E conte-nos como era o tratamento entre os homens e mulheres na sua época? e após... a convivência diária do casamento?
B antigamente o tratamento era de grande respeito... bem diferente de hoje... os homens namoravam as mulheres em casa... sempre com alguém presente ou então o casal passeava na praça com uma das irmãs os acompanhando... depois que casavam as mulheres ficavam em casa cuidando dos afazeres e das crianças... sempre preocupada da janta estar pronta para o marido na hora certa... já os homens trabalhavam o dia inteiro e quando chegava a hora de levar seu filho homem para trabalhar... eles ensinavam
A sexualidade é, então, cuidadosamente encerrada. Muda-se para dentro de casa.A família conjugal a confisca. E absorve-a, inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo, se cala. O casal, legítimo e procriador, dita a lei. Impõe-se como modelo, faz reinar a norma, detém a verdade, guarda o direito de falar, reservando-se o princípio do segredo. No espaço social, como no coração de cada moradia, um único lugar de sexualidade reconhecida, mas utilitário e fecundo: o quarto dos pais. Ao que sobra só resta encobrir-se; o decoro das atitudes esconde os corpos, a decência das palavras limpa os discursos. E se o estéril insiste, e se mostra demasiadamente, vira anormal: receberá este status e deverá pagar as sanções(Foucault, 1988: 9-10).
E quais os valores foram construídos pela família na sua educação ou desconstruídos?... isso te ajudou ou trouxe dificuldades em seus relacionamentos?
B ah... com certeza a importância e a valorização da união da família e da fé para que pudéssemos conseguir nossos objetivos (disse pensando)... quando me casei e formei família meu marido e eu sonhávamos em construir nossa casinha... e para que isso acontecesse tivemos que fazer sacrifícios... eu tinha que dar de comida para meus filhos angu para que meu marido pudesse juntar dinheiro para comprar um terreno e devagar fazer nossa casinha... fazer também que meus três filhos estudassem e fossem alguém na vida porque eu só tinha feito o primário... com todas as dificuldades que tivemos para realizar nossos sonhos me distanciei um pouco de meus irmãos... principalmente depois que mamãe e papai morreram... mas depois com o tempo consegui me aproximar de algumas que ainda estão vivas (disse triste)
E como é ou foi a convivência entre homens, mulheres e a geração LGBT na família e na sua atuação profissional?
B na minha família não sei se tem... acho que não ((disse pensativa)) porque todos são casados e com filhos... o único não casado é meu sobrinho neto... um rapaz muito bom trabalhadorgentil... é doutor cirurgião e bombeiro... ele divide o apartamento com um amigo já há alguns anos... esse amigo está sempre junto com ele... um rapaz bom e gentil também... eles têm um cachorrinho juntos... eu nunca trabalhei fora... mas costurava algumas roupas para ajudar em casa e... que eu saiba... nunca costurei para um rapaz que gostasse de outro rapaz ou uma moça que gostasse de outra moça
E em que momento da sua vida você percebeu a necessidade de refletir sobre as relações de amizade e as relações amorosas?
B quando eu aceitei casar com meu marido... eu tive que pensar se queria mesmo... porque teria que sair do estado do Rio de Janeiro para morar na capital por causa do emprego de policial militar do meu marido... e quando meus filhos quiseram casar... achei que estava perdendo eles
E quais fatores contribuíram para que você optasse por discutir sobre a sexualidade com seus filhos filhas marido netas e netos?
B eu tive que mandar meu marido conversar com os meninos para não arrumarem filho cedo antes de casar... porque eles eram muito novos e precisavam aproveitar a vida e estudar... nunca falei sobre isso com os meus netos porque todos moram em outros estados... já que meus filhos são militares... mas sempre que converso com eles por telefone... pergunto se estão com namoradinhos e se eles são de igreja... porque isso é muito importante
E você recebeu alguma formação sobre a convivência social entre homens mulheres e a geração LGBT por alguém?... como você define suas relações afetivas?... como você compreende as relações afetivas entre homens mulheres e a geração LGBT?
B ninguém nunca me falou sobre isso, apesar de já ter escutado alguma coisa na televisão... mas nunca me interessei porque não dou muita atenção para esses canais... assisto mais canais religiosos... eu me dou bem com todo mundo na minha família bairro e igreja... até com minha cabelereira que é homem mas se veste de mulher: ela é toda montada bonita sabe?até os peitos ela comprou... simpática... com um cabelo comprido... ah minha filha... todos nós somos filhos de Deus... essas pessoas ainda não encontraram Jesus... mas vão encontrar em nome de Deus.
O autor também destaca que desde a época clássica, a repressão estabeleceu ligação fundamental entre poder, saber e sexualidade, no entanto para se liberar:
[...] seria necessário nada menos que umatransgressão das leis, uma suspensão das interdições, uma irrupção da palavra, uma restituição do prazer ao real, e toda uma nova economia dos mecanismos do poder; pois a menor eclosão de verdade é condicionada politicamente. Portanto, não se pode esperar tais efeitos de uma simples prática médica nem de um discurso teórico, por mais rigoroso que seja. Dessa forma, denuncia-se o conformismo de Freud, as funções de normalização da psicanálise, tanta timidez por trás dos arrebatamentos de Reich, e todos os efeitos de integração assegurados pela "ciência" do sexo ou as práticas, pouco mais do que suspeitas, da sexologia. Esse discurso sobre a repressão moderna do sexo se sustenta. Sem dúvida porque é fácil de ser dominado. Uma grave caução histórica e política o protege; pondo a origem da Idade da Repressão no século XVII, após centenas de anos de arejamento e de expressão livre, faz-se com que coincida com o desenvolvimento do capitalismo: ela faria parte da ordem burguesa(Foucault, 1988: 10).
[...] se o sexo é reprimido com tanto rigor, é por ser incompatível com uma colocação no trabalho, geral e intensa; na época em que se explora sistematicamente a força de trabalho, poder-se-ia tolerar que ela fosse dissipar-se nos prazeres, salvo naqueles, reduzidos ao mínimo, que lhe permitem reproduzir-se? O sexo e seus efeitos não são, talvez, fáceis decifrar.
Se o sexo é reprimido, isto é, fadado à proibição, à inexistência e ao mutismo, o simples fato de falar dele e de sua repressão possui como que um ar de transgressão deliberada. Quem emprega essa linguagem coloca-se, até certo ponto, fora do alcance do poder; desordena a lei; antecipa, por menos que seja, a liberdade futura. Daí essa solenidade com que se fala, hoje em dia, do sexo(Foucault, 1988:12).
Os resultados do desafio proposto aos discentes são apresentados no e-book: Diálogos com os idosos sobre relações de gênero e sexualidades, recentemente publicado pela Pedro e João Editores, que os credibilizam como autores(as) pois evidenciam “como se dá e se registra” a voz do Outro, nas narrativas dos idosos o leitor encontrará os tipos de brincadeira vividos entre meninos(as); como era a convivência entre gêneros; a educação sexual recebida ou não no contexto familiar, bem como os fatores que contribuíram para que optassem por discutir sobre a sexualidade com filhos(as), marido, esposas, netos(as).
Essas fontes estão disponíveis no Centro de Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação, Linguagem, Memória e Identidade/CELMI, no acervo do Centro de Documentação de Educação, Linguagens e Diversidade Cultura de Mato Grosso do Sul, vinculado ao Grupo de Pesquisa: Educação, Cultura e Diversidade, como também serão disponibilizadas para utilização por outros pesquisadores da instituição e de fora da instituição que desejam pesquisar a temática abordada na presente obra.